quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Riquezas Diferentes, Valores Diferentes.


          Você já parou pra analisar a sua vida? Não? Claro que não. Você só irá preocupar-se com isso quando for uma pessoa velha. Uma pessoa velha como eu.
          Pois bem, aqui estou eu; velho, sozinho, escrevendo esta carta após um bom tempo analisando a vida que tive. É engraçado pensar que, quando você atinge certa idade, o tempo torna-se tudo o que você tem, e ao mesmo tempo torna-se nada, pelo fato de ele acabar a qualquer momento.
             Outra coisa não tão engraçada, é escrever esta carta me perguntando

se alguém irá ler. Meus filhos moram fora e não me visitam há seis anos. Minha mulher me deixou há três. Ela foi tirada de mim por uma grave doença. Um dia ela estava aqui comigo, convidando-me para dar um passeio no parque com ela e quatro dias depois eu estava a enterrando (e com ela, o último resquício de felicidade que poderia existir em mim). Não tive nem chance de aceitar aquele convite para o passeio no parque. Aconteceu tudo muito rápido, sem tempo para que reagíssemos àquela situação. Se pensarmos bem, a vida é isto: Um rápido acontecimento em que só esboçamos reação tarde demais.
             Durante minha vida, conquistei este casarão com o meu esforço. A mansão tem vários cômodos, mas sem perceber, passei grande parte da minha vida no escritório. Sem perceber, a vida passou e eu não assisti sequer a um filme naquela sala junto de minha família. Sem perceber, meu filho entrou na faculdade e eu não tive tempo de ajudá-lo na lição de casa ou de ir à reunião de pais. Sem perceber, chegou o dia em que minha esposa, sem saber, preparou sua última refeição para mim e eu, sem saber também, desperdicei aquele último jantar com ela, alegando estar ocupado e que jantaria no escritório. Como eu queria poder voltar no tempo e fazer tudo diferente e dizer para ela o quanto eu a amo. Mas, se eu for merecedor do tão estimado paraíso, creio que em breve a encontrarei em um lugar melhor.
             Quanto aos meus filhos, queria poder dizer à eles que me orgulho deles e que a melhor coisa que eu vou deixar como herança, legado – ou chame do que quiser - ao mundo, são eles. Espero que algum dia eles possam perdoar o seu velho pai pelas riquezas que dei preferência.
             Agora, depois de tantos anos, tantas escolhas e tantos erros, percebo quais são as verdadeiras riquezas da vida. Percebo-as quando vejo um quintal enorme na minha casa, mas não vejo lembranças de meus filhos pequenos correndo descalços na grama e eu brincando com eles neste quintal. Percebo as verdadeiras riquezas ao ver minha grande coleção de vinhos caríssimos e lembrar que nunca presenteei minha esposa com um jantar romântico, jogando conversa fora, rindo, me preocupando com ela e dizendo o quanto ela me faz bem.
            Após essa minha análise de vida, percebo que escolhi o tipo de riqueza errada.
            Se alguém ler esta carta, eu faço-lhe a seguinte pergunta: Quais são as suas verdadeiras riquezas? Caso você não saiba a resposta, aconselho que a encontre o quanto antes, para que no final, você não tenha arrependimentos e convites de passeio no parque sem aceitar.