quinta-feira, 16 de abril de 2015

O Bem, o Mal e o Enigma

     Em algum lugar distante existia um planeta amarelo e diferente - chamava-se Dédalo - onde o céu era lindo. Podia-se enxergar várias estrelas bem próximas, estrelas essas que todos chamavam de fontes.
     A maior de todas tinha uma cor azulada e era a que trazia o dia até aquele planeta. Seu nome era Trillian e com sua chegada todos os habitantes paravam e a reverenciavam agradecidos por ela ser a principal fonte de energia que fazia aquele planeta viver.
     As outras fontes eram menores e de outras cores.
     Todos os casais apaixonados daquele lugar tiveram uma noite de amor sob a luz de Micles, a fonte roxa que aparecia três vezes por ano oferecendo explosões de luz que serviam de inspiração para os mais talentosos artistas expressarem a paixão pelo mundo em que viviam.
     Heimdall era a fonte de cor verde que aparecia somente uma vez por ano nos céus de Dédolo e brilhava por semanas seguidas fazendo com que todas as árvores do planeta produzissem flores e frutos, o que garantia alimento para todos os habitantes além de gerar novas plantas que aguardariam ansiosamente pela volta de Heimdall para gerarem mais flores e frutos.
     As trigêmeas (Anna, Helena e Teresa) eram três estrelas brancas que sempre apareciam juntas todas as noites e os habitantes de lá costumavam dizer que elas eram as fontes da amizade e da fraternidade, que se qualquer uma das três se separasse todas perdiam o brilho.
    Havia também a fonte Âmbar, que levava o mesmo nome de sua cor, e quando ela apontava no céu sozinha significava que as preparações deviam começar, pois quando ela voltasse seria juntamente com Micles. Quando as duas fontes se encontravam uma terceira surgia nos ares, como um milagre. Esta terceira chamava-se Kanpo e trazia fertilidade para todos os seres que viviam em Dédalo. Em época de Kanpo a vida se renovava por toda a superfície daquele planeta distante.
     A última estrela do céu de Dédalo era Usdajã e todos diziam que era a mais bela de todas. Usdajã tinha uma cor vermelha escura e as vezes ficava com cor de vinho. Todos a chamavam de fonte do enigma, porque ninguém sabia ao certo qual era a função daquela estrela tão diferente das outras no céu.
     Os ancestrais daquele planteinha escondido em algum rabo de galáxia universo a dentro contavam várias estórias para as gerações mais novas, sob a luz das trigêmeas. A lenda que todos os jovens Dedalianos mais gostavam era a a Lenda da Psicodelia de Usdajã.
     Com todos os floreios e dramatizações que não podem faltar para um bom contador de estórias os jovens e crianças ouviam sobre o incrível dia em um passado distante (tão distante que nem o mais velho dos ancestrais sabia dizer quando ocorreu) quando no ápice do Céu de Usdajã começou um fenômeno estranho. Além do brilho misterioso da fonte do enigma começaram a surgir outros brilhos. Uma a uma as fontes foram aparecendo no céu e todos os habitantes pararam com suas rotinas para prestigiar aquele espetáculo que acontecia no céu. Usdajã havia convidado todas as outras fontes para uma festa. Ficaram tão impressionados com aquela dança de cores e energias que esqueceram que cada uma tinha seu propósito e que provavelmente se se misturassem todo o equilíbrio do planeta seria comprometido. Mesmo assim continuaram assistindo ao espetáculo no céu. Quanto mais próximas as fontes ficavam, mais as cores e sensações se misturavam no céu até o momento em que os moradores de Dédalo perderam todos os sentidos. Sem noção de espaço, tempo, cor, cheiro, ou qualquer outra coisa, reza a lenda que todas as fontes viraram uma só, a fonte da psicodelia. Os contadores de estórias chamam essa fonte de Joplin. Quando a fonte psicodélica parecia não ter mais fim, muito menos princípio, tudo parou e ficou escuro. Um breu absoluto.
    Os dedalianos começaram a recuperar os sentidos e antes que pudessem entender o que aconteceu um ser estranho, que se apresentou como Dólar, desceu dos céus segurando uma esfera dourada. Esse ser disse que dentro da esfera havia um imenso poder que os habitantes daquele planeta deveriam conhecer. O nome desse poder era Mal.
    O mais antigo e sábio dos moradores de Dédalo expulsou o ser estranho e sua esfera alegando que as fontes já lhes davam todo o poder necessário. Dólar falou que iria embora, mas que voltaria na próxima festa de Usdajã com a mesma esfera.
     Todos os jovens e até os não tão jovens assim admiravam essa lenda e acreditavam que o que Dólar tinha na esfera era a resposta para o poder de Usdajã, já que ninguém sabia ao certo a utilidade daquela fonte.
     O tempo passou em Dédalo. Os ancestrais se foram, os jovens viraram ancestrais e novos jovens receberam a dádiva da vida.
     Das novas gerações saíram alguns contadores de estórias que não só propagavam a Lenda da Psicodelia de Usdajã, mas também defendiam a ideia de que se Dólar voltasse a esfera deveria ser aberta para que Usdajã pudesse funcionar com toda sua plenitude, pois assim Dédalo seria um lugar melhor e completo.
     Surgiram então duas ramificações da velha lenda. Alguns jovens gostavam mais de uma versão e outros jovens preferiam a outra, mas não passava de uma lenda e os dedalianos tinham outras lendas para ouvir, outras fontes para prestigiar e mais vida para viver para se preocuparem com o Enigma de Usdajã.
     Era época de Céu de Usdajã e todos os dedalianos seguiam com suas vidas normalmente até o momento em que Heimdall apareceu ao longe. Depois veio Trillian. Depois as trigêmeas. Não havia dúvida! Era Dólar voltando com a esfera de ouro.
     Conforme as estrelas foram aparecendo e misturando suas luzes e energias os habitantes de Dédalo foram ficando cada vez mais atônitos e angustiados. Era efeito da mistura de energias. A psicodelia foi aumentando e aumentando até que todos os seres daquele belo planeta perderam a sua consciência.
     Quando todos acordaram lá estava Dólar e sua esfera dourada. Dólar fez novamente a sua proposta e dessa vez nenhum ancestral o enfrentou. Os ancestrais de Dédalo reuniram-se e pediram a Dólar um prazo de 15 dias para decidirem se ficariam com a esfera ou não. Dólar aceitou a proposta e ficou hospedado no planeta amarelo.
     Os ancestrais começaram então a debater sem chegar a um acordo. Decidiram então reunir todos os habitantes para decidir se aceitariam ou não o poder da esfera.
     No segundo dia quando todos os dedalianos foram chamados para decidir o futuro do planeta começou a briga. Muitos queriam o mal e muitos não o queriam.
    No quinto dia, sem chegarem a nenhum acordo, um dos jovens que defendiam o mal acertou um golpe em outro jovem e o matou. Jamais algum dedaliano havia matado outro. Aquilo gerou uma revolta generalizada entre todos. Os que queriam o mal decidiram que iriam combater quem não o quisesse e esses decidiram responder a altura. Havia começado a Guerra de Dédalo.
    A partir do sexto dia o planeta estava dividido em dois e todos se degladiavam até a morte. A tragédia parecia não ter fim e a cada dia que se passava a população de Dédalo diminuía mais.
    No décimo segundo só restavam 100 dedalianos que lutavam incessantemente até que dos 100 restaram somente dois. Um queria a esfera e outro não queria. Dólar somente assistia àquele desastre. Quando só restou um jovem habitante em Dédalo Dólar se aproximou e perguntou sobre qual era a decisão, já que só cabia a ele. O jovem, muito cansado e machucado, pediu a Dólar que voltasse para onde veio e que levasse junto a sua esfera do mal, porque o mal era algo que eles não precisavam.
     No décimo quinto dia Dólar estava de partida e o jovem o indagou:
     -Por que carregas o mal dentro de uma esfera?
     Dólar deu um sorrisinho de canto de boca e disse antes de partir:
     -Eu não carrego o mal, caro jovem. O mal está dentro de cada um, juntamente com o bem. Eu carrego somente a dúvida, o enigma!